Sem renda fixa nem carteira assinada, a estudante Michelly encontrava dificuldades para realizar seu sonho: fazer uma cirurgia plástica. "Qual banco faria um empréstimo para uma estudante que não tem renda fixa nem carteira assinada?", justifica Michelly Karoline Silveira, 21 anos, que está no terceiro ano de nutrição em uma faculdade de Campinas.
A saída foi recorrer ao consórcio, uma forma de financiamento que tem crescido nos últimos meses, depois que grupos para pagamento de serviços começaram a ser oferecidos.
Assim que a Nova Lei dos consórcios entrou em vigor no país, em janeiro do ano passado, permitindo que as cartas de crédito dos consórcios pudessem ser usadas para financiar qualquer tipo de prestação de serviço, a estudante percebeu que não teria de esperar pela sua formatura e pelo seu primeiro emprego com registro em carteira para pagar sua prótese de silicone nos seios.
"Entrei em um grupo de 36 meses, mas consegui juntar um pouco de dinheiro e dei um lance. Seis meses depois, consegui a carta de crédito. Penso agora em entrar em um consórcio para comprar um imóvel. Como moro com os meus pais, não tenho pressa para comprar o bem. Nesse caso, o consórcio acaba sendo realmente muito vantajoso."
Segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), de janeiro a junho deste ano, o volume de negócios chegou a R$ 28,5 bilhões, valor 33,2% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, R$ 21,4 bilhões.
Até maio, eram 25 as administradoras que ofereciam grupos de serviços. Nos cinco primeiros meses do ano, de acordo com a associação, 29,4% dos consorciados sorteados utilizaram sua carta de crédito nas áreas de saúde e estética, 15,2% para festas e eventos, 8,9% em turismo e 2,9% em educação. Hoje, há no país cerca de 4.600 consumidores em grupos de consórcios de serviços, e o valor do crédito varia de R$ 2 mil a R$ 38 mil.
Para quem quer imediatamente um bem, o consórcio não é vantajoso. Mas se a compra puder esperar, é a melhor saída quando comparado às condições de financiamento do mercado", disse o presidente executivo da Abac, Paulo Rossi.
A principal cobrança das administradoras, que tem maior peso sobre as parcelas, é a taxa de administração. No caso dos grupos de serviços, a taxa média observada no mercado é de 0,5% ao mês, considerando o prazo de 36 meses, segundo a Abac.
Para a administradora de empresas Gilvane Oliveira dos Santos, 29 anos, que disse ter esperado "quase uma vida inteira" para ficar satisfeita com seu corpo, aguardar um ano e meio para ter em mãos uma carta de credito e pagar sua cirurgia plástica.
"Fiz a melhor escolha ao procurar essa modalidade de crédito e fugir dos juros cobrados pelos bancos e pelas financeiras", disse Gilvane, que, além de uma lipoaspiração, colocou prótese de silicone nos seios.
Depois de ter sido sorteada em menos de um ano, Gilvane agora faz planos para comprar um carro e fazer uma viagem internacional. "É muito bom você poder pagar seus gastos do seu jeito. Foi assim que eu me senti", afirmou a administradora.